segunda-feira, 3 de agosto de 2015

AULA DE CAMPO
TEMA: CAMINHOS HISTÓRICOS NA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA
Professor responsável: José Lima Dias Júnior (História)
Profs. colaboradores: Antônio Pinheiro Neto (Língua Inglesa) e Luís Vitorino (Ed. Física)
Unidade de Ensino: Escola Municipal Genildo Miranda
Data: 30/07/2015
Memorial da Resistência
INTRODUÇÃO:
“A Memória, no sentido primeiro da expressão, é a presença do passado. A memória é uma construção psíquica e intelectual que acarreta de fato uma representação seletiva do passado, que nunca é somente aquela do indivíduo, mas de um indivíduo inserido num contexto familiar, social, nacional”, ressalta Raimundo Nonato Pereira Moreira.
Discutir o tema da construção da memória é fundamental para a reflexão sobre o ensino da história, principalmente quando, em sala de aula, trabalhadas questões do cotidiano e do mundo em que os alunos estão inseridos.
Partindo deste pressuposto, é que a aula de campo tem como objetivo relatar a importância da memória e da história, a partir da aplicação dos conceitos de preservação, patrimônio histórico e cultural vivenciados pelos alunos (6º Ano) no ambiente escolar, onde o aluno, ao longo da sua escolarização, “vive o processo de integrar sua vida ao contexto social que o cerca e de ampliar esse contexto para outros tempos e espaços”, observa Patrícia Ramos Braick.
JUSTIFICATIVA:
A relevância da visitação ao Memorial da Resistência Mossoroense para complementar as atividades realizadas em sala de aula reside no apoio à preservação da memória local, bem como, na reflexão sobre a própria história. Dar organicidade aos registros da história é de fundamental importância para a edificação do saber histórico. Nessa perspectiva, a memória deve ser entendida “enquanto objeto de conhecimento”, mas “como uma possibilidade de reflexão sobre o passado através de sua representação no momento presente” (2003, p. 107).
Problematizando o passado
A preocupação com a preservação da memória histórica e do patrimônio cultural é uma afirmação da nossa identidade étnica e cultural. Nesse sentido, as palavras do historiador Edward Said são bastante esclarecedoras:
A invocação do passado constitui uma das estratégias mais comuns nas interpretações do presente. O que inspira tais apelos não é apenas a divergência quanto ao que ocorreu no passado e o que teria sido esse passado, mas também a incerteza se o passado é de fato passado, morto e enterrado, ou se persiste, mesmo que talvez sob outras formas.
Entendemos por patrimônio o conjunto de bens culturais de propriedade de todos os cidadãos e com valor reconhecido para uma região e humanidade. Define-se como bens culturais a produção dos indivíduos nas diferentes partes do mundo, formando o testemunho da intervenção humana no ambiente, englobando as mais diversas formas. (ASSUNÇÃO, 2003, p.23).
Para o aluno, a preservação do patrimônio histórico e cultural pode ser a oportunidade de um entendimento distinto do mundo que o cerca, além da possibilidade de criação de laços íntimos com o espaço, na tentativa de se evitar a depredação de bens e locais públicos, bem como pensar a importância destes para a paisagem urbana e o espaço comum de convivência. Portanto, conhecer a história da cidade e seu processo constitutivo é saber que cada indivíduo faz parte deste processo como ser ativo.
Pequenos historiadores, novas interpretações.
Contemplando a natureza do saber histórico
OBJETIVOS:
Geral:
  • Desenvolver a conscientização do educando em relação à preservação e conservação do patrimônio que cerca a cidade.
Específicos:
  •  Realizar reflexões acerca da importância do patrimônio histórico e cultural no desenvolvimento da sociedade;
  •  Efetivar uma prática cotidiana de defesa do patrimônio;
  •  Mostrar a importância da defesa do patrimônio com tarefa essencial na conquista da cidadania plena;
  • Apresentar aos alunos as questões referentes à preservação de seus monumentos e edifícios, considerados componentes do Patrimônio Cultural Edificado dessas cidades.
Dados sobre o Memorial da Resistência:

Interior do Memorial da Resistência
O Memorial da Resistência é um museu de exposições que destacam o tema do Cangaço e a resistência da cidade de Mossoró ao bando de Virgulino Ferreira da Silva - vulgo Lampião - que tentou invadir a cidade no ano de 1927. Composto por três andares, que abrigam cinco módulos para destacar diferentes temas e aspectos do Cangaço, o memorial apresenta exposição de vários painéis.

O módulo um conta à história do movimento e o módulo dois apresenta as biografias dos heróis da resistência mossoroense, ilustradas com fotografias. O módulo três, denominado "A Cidade", exibe fotografias que revelam a evolução da fisionomia arquitetônica de Mossoró. O módulo quatro, chamado "Portal", tem um salão de exposição, salas de projeção de filmes e consultas virtuais sobre temas relativos ao Cangaço e café literário. (Wikipédia, a enciclopédia livre)

A História como campo de possibilidades.


METODOLOGIA DE ENSINO:
- Aulas expositivas;
- Leituras, discussões de textos e debates em sala.

Jeová, aluno do 6º Ano ""B".
AVALIAÇÃO:
Para obter um resultado esperado fiz uso da avaliação somativa. Essa modalidade, geralmente, é aplicada ao final de cada período de aprendizado, com o objetivo de medir o conhecimento adquirido pelo educando. Como instrumentos de avaliação foi utilizados textos complementares, realização de leitura compartilhada e da literatura de cordel durante o primeiro semestre a fim de procurar identificar, aferir, investigar e analisar o desempenho do aluno, bem como na aplicação dos conceitos de Tempo histórico (passado/presente), Preservação e Patrimônio Cultural para compreender a relação entre Memória e História.
RESULTADOS:
Durante a aula de campo constatou-se que o aluno é motivado a desenvolver e expressar seu pensamento quando se aprende história em lugares distintos, sendo o museu um desses espaços. Na referida aula optamos por reflexões que levassem em conta o contexto das experiências humanas (historicidade) e inserissem o aluno como sujeito histórico que se vive e se constrói diariamente (história vivida), já que é colocado em situação que o conduzem a problematizar o passado sem esvaziar o tempo presente.

Visita a Igreja de São Vicente.
ANEXOS:

O bando de Lampião, em Limoeiro do Norte (CE), após ataque a cidade de Mossoró, em 13 de junho de 1927.

Grupo de resistentes (Blogdogemaia.com.br)

Capela de São Vicente, final dos anos 20, começo dos anos 30, por Francisco Soares de Lima (honoriodemedeiros.blogspot.com.br)

Lateral da Capela de São Vicente (Foto: Valdecy Alves)



 Marcas de balas no campanário da Igreja (Foto: Valdecy Alves)

Residência do Coronel Rodolpho Fernandes, durante a invasão, vendo-se, ao fundo a Igreja de São Vicente (lampiaoaceso.blogspot.com.br).
Trincheiras de defesa a cidade de Mossoró ao Bando de Lampião:
Trincheira da Estação Ferroviária:
Chamada de aTrincheira de Saboinha, apelido de Vicente Sabóia Filho, o então Diretor da Superintendente da Estrada de Ferro.



Esta trincheira foi constituída de civis e militares. Os civis: Francisco Santiago de Freitas; Inácio Bispo; João Delmiro; José Cordeiro; José Pereira; José Tenório; Lafaiete Tapioca, engenheiro; Lourenço Menandro da Cruz; Pacífico de Almeida; Raimundo Leão de Moura, comerciante; Vicente Sabóia Filho. Os militares: os Soldados Clóvis Marcelo de Araújo e Severino França, e o 3º Sargento Pedro Sílvio de Morais. 

Atualmente, esta estação faz parte de um conjunto de edificações, tombado e destinado a fins culturais, que recebe a denominação de Estação de Artes Eliseu Ventania. (Fonte: http://telescope.blog.uol.com.br)


Trincheira Francisco Marcelino Holanda

A imagem 01 mostra o local da sexta trincheira de defesa da cidade ao ataque de Lampião, (1900-1938), à cidade de Mossoró-RN, em 13/06/1927. Esta edificação, até a presente data, ainda encontra-se erguida, à Praça Rodolfo Fernandes.
Raul Fernandes, na obra abaixo, assim a descreve: "No sobrado, à Praça Rodolfo Fernandes, 95, ficaram nove civis armados de rifles, municiados com setenta balas cada homem. Compuseram a trincheira: Antônio Cordeiro, Basílio Silva, Estevão de Tal, José Matias da Costa, Manoel Ferreira, Luiz Mendes de Freitas, Noberto de Souza Rego, Severino de Aquino e Tertuliano Aires Dias, conhecido por Terto Aires, proprietário de uma fundição na cidade.” (Fonte: http://telescope.blog.uol.com.br)


Trincheira - Miguel Faustino do Monte & Cia.


 A imagem, de autor desconhecido, mostra o conjunto arquitetônico que sediou a firma Miguel Faustino do Monte & Cia, Mossoró-RN, em 1915, a qual serviu como a quinta trincheira de defesa da cidade contra o ataque de Lampião, (1900-1938), em 13/06/1927. Esta firma estava situada à Praça dos Fernandes, que o autor informa, em 1978, ser a atual Praça Getúlio Vargas, nº 6.
Raul Fernandes, na obra referenciada, assim descreve esta trincheira: "Miguel Faustino, o dono da firma, adquiriu uma dúzia de rifles, e no dia  12 de junho, armou dez funcionários e dois trabalhadores, cabendo dez balas a cada um. Ficaram de vígilia, nos armazéns e, no escritório, os funcionários Antônio Coelho, Francisco Matos Rolim, Joaquim Gregório da Silva, José Domício do Couto, José Soares de Góis, José Alencar, João Abel, Miguel Menezes, Moacir Monte e Raimundo Ramalho. À noite, Vicente Sabóia e Raimundo Leão visitaram esta trincheira. No dia seguinte, o diretor da firma Antônio Teodoro Soares e a maioria dos funcionários deixaram a cidade com suas famílias. Na hora do assalto, a trincheira estava praticamente abandonada, sem comando, entregue a meia dúzia de trabalhadores. (..) Durante a noite, um trabalhador ficou de vigia em cima da caixa d"água, atrás do escritório da firma, imitando o canto do galo, avisaria da aproximação dos cangaceiros. Ganhou a alcunha de Zé do Galo, para o resto da vida." (Fonte: http://telescope.blog.uol.com.br)

 Trincheira Tertuliano, Fernandes & Cia.



A quarta trincheira de defesa da cidade de Mossoró, em 1927, foi montada nos armazéns da firma Tertuliano, Fernandes & Cia, imagem 01, que Raul Fernandes, na obra abaixo, assim a descreve:
"Os dez armazéns conjugados da firma ocupavam o lado norte da praça Felipe Guerra. A fim  de protegê-los, colocaram no sobrado, 160, a leste da praça, seis trabalhadores com cinquenta balas cada um - João Manoel Filho, Antônio Juvenal, João Ferreira da Silva, Luiz Chico, José Manoel e Francisco Canuto. A segunda trincheira fora organizada no sobrado, dormitório dos empregados, na esquina da rua Cel. Gurgel com a Frei Miguelinho. Formada por Manoel Sabino Lima, Francisco Campos Nogueira, Sérgio Queiroz, Francisco Porto, Pedro Maia e Monte Belo. Pouco antes do assalto, chegaram uns comboeiros com rifles, e dez balas cada um. Outra parte do pessoal de Tertuliano foi para a trincheira de Rodolfo."
Trincheira Alfredo Fernandes & Cia.

A terceira trincheira do Prefeito Rodolfo Fernandes para defesa do assalto à cidade de Mossoró, em 1927. Defesa esta que foi montada na empresa deAlfredo Fernandesque Raul Fernandes assim a descreve:
"o prédio assobradado do escritório ficava naAv. Cunha da Mota, 27. No primeiro andar, dormitório dos empregados da firma, cinco homens armados vigiavam. Os grandes armazéns estendiam-se à rua Coronel Gurgel, 475 e 487. O conjunto limitava-se com a rua Felipe Camarão. Colocaram também dez homens armados de rifles e fuzis, sob o comando de Francisco Alves Cabral." (Fonte: http://telescope.blog.uol.com.br)


Trincheira Capela de São Vicente de Paulo



O Prefeito Rodolfo Fernandes (1872-1927),  na elaboração da estratégia da Trincheira I,- defesa ao ataque de Lampião (1900-1938), a Mossoró-RN, em 1927, verificou que a lateral sul do palacete (casa 1, da imagem 02) estava fragilizada, pois, a pequena defesa da casa 2, imagem 2, havia sido abandonada.
Para tentar minimizar  esta vulnerabilidade naquele lado da edificação, montou a segunda trincheira, no campanário da Capela de São Vicente de Paulo, imagem 01. Esta foi a igreja que o bandido Lampião a denominou por "igreja da bunda redonda". (Fonte: http://telescope.blog.uol.com.br)



O Prefeito Rodolfo colocou as seguintes pessoas no campanário: Manoel Alves de Souza, Léo Teófilo e Manoel Felix. Daquele ponto, informariam sobre o movimento dos bandidos, e poderiam atirar em quem tentasse transpor os muros.
Contudo, o autor em referência, Raul Fernandes, frisou que do campanário da capela, número 3 e da imagem 2, somente podiam atirar para cima das casas e em alvos distantes. A espessura da parede e a larga cornija circundante impediam onde se desferia a luta. Mas, foi desta torre que Manoel Alves conseguiu avisar aos homens que estavam no telhado da trincheira principal da presença do bandido Jararaca, em pleno meio da avenida, o qual foi abatido por Manuel Duarte, posicionado na platibanda dá casa !. (Fonte: http://telescope.blog.uol.com.br)

Cangaceiro Jararaca ferido em combate.


Jararaca detido na Cadeia Pública, hoje Museu Municipal.

Bilhete de Lampião ao prefeito de Mossoró, Rodolpho Fernandes, exigindo pagamento para não atacar a cidade.


Posicionamento das tropas de Lampião, em vermelho, e da resistência de Mossoró, em amarelo (1 - Capela de São Vicente; 2 - Casa do Prefeito)

Prefeito de Mossoró




FontesFERNANDES, Raul. (1908-1998). A Marcha de Lampião, Assalto a Mossoró. 7a. edição, Coleção Mossoroense, Volume 1550,  Fundação Vingt-un Rosado, outubro de 2009; 

Fonte do Arquivo Fotográfio P&B - Azougue.

Sites sobre o Cangaço:








REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ASSUNÇÃO, Paulo de. Patrimônio. São Paulo: Loyola, 2003.

BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. 8ª ed.São Paulo: Contexto, 2003. (Coleção Repensando o Ensino)

BRAICK, Patrícia Ramos. Estudar história: das origens do homem à era digital. São Paulo: Moderna, 2011.

LE GOFF, Jacques. História e memória. 4. ed. Campinas: Unicamp, 1996.

MOREIRA, Raimundo Nonato Pereira. História e memória: algumas observações. Disponível em: http://pablo.deassis.net.br/wp-content/uploads/Hist%C3%B3ria-e-Mem%C3%B3ria.pdf Acessado em: 02 de ago. 2015.

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